terça-feira, 20 de novembro de 2007

Brincar de culpar

Não há nada mais divertido do que colocar a culpa nos outros. E Alice sabe se divertir como ninguém.

Ontem, quando acabou com os cubos de gelo das formas, por exemplo, não titubeou nem um segundo ao acusar o irmão da proeza. “Nossa, esse moleque não tem a mínima noção de convívio social”, disse para a mãe, com a cara mais lavada de todas.

Mas não é apenas para passar ilesa às pequenas chatices do dia-a-dia que Alice usa esse maravilhoso e libertador mecanismo. Ela se safa de conflitos morais capazes de deixar Aristóteles sem resposta.

Na semana passada, quando atropelou uma velhinha que andava tranqüilamente na calçada, não sentiu o menor peso na consciência e gritou: “quem mandou andar devagar, sua velha senil”.

Até aí, tudo bem. Ela transfere sua culpa aos outros apenas para se sentir melhor. A coisa fica realmente feia quando ela faz os outros se sentirem culpados por tudo o que lhe acontece.

Por isso, Alice, escute bem o que vou dizer:

Brincar com a verdade é engraçado. Brincar de culpar os outros também é engraçado. Fazer os outros se sentirem culpados é triste. Assumir a culpa pode ser a única alegria para aquele que está do outro lado da brincadeira.

Nenhum comentário: