quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Cabelos vermelhos

Eu achei que pintando meu cabelo fosse me sentir mais feliz. Não fui ingênua a ponto de achar que uma coloração capilar fosse me deixar em estado de êxtase, mas sinceramente esperava sentir no coração algum tipo de felicidade. No mínimo um contentamento, como aquele que sinto ao terminar um livro de 800 páginas cujo autor o tempo todo insiste em escrever na ordem indireta.

Fiquei ruiva, mas não fiquei mais feliz.

Segundo minha mãe, isso mostra que sou uma pessoa que pouco liga para as aparências e que me preencho com questões mais profundas que as mundanas alterações estéticas femininas. (E que usa muitos quês numa mesma frase, diga-se de passagem) Argumento pretensioso, mas que me agradou muito. (Ops, mais um que)

Segundo minha voz interior, isso significa que não gostei tanto assim do resultado. Vozinha chata essa, que não sai da cabeça e não perdoa nenhuma relutância. Eu gostei sim do resultado. In fact, amei! Agora sou uma menina vermelinha, que no sol tem o cabelo da cor de cerejas escuras.

Segundo este texto, isso significa que ainda não decidi como me sinto a respeito dos meus novos cachos vermelhos.

Mas como toda boa indecisa, não usei tinta.

Pedi para a moça do salão usar tonalizante.

Eu sempre dou um jeitinho de voltar atrás!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Muito nova para morrer

Sempre tive a impressão de que morreria cedo. Ao guardar pequenas coisas em minha gaveta, tinha a sensação de alimentar uma caixinha de Pandora a ser aberta por minha mãe, em uma chorosa tarde de domingo quando eu já não estivesse mais aqui.

Na gaveta, nada muito comprometedor. Uma conta de celular que esqueci de pagar, um maço de cigarros de menta que gostava de fumar aos domingos à tarde, um ticket do restaurante onde fui pela última vez com um namoradinho que estava começando a me encantar de verdade.

Segredos, segredinhos diria agora que a impressão virou realidade.

Eu morri aos 21 anos, logo depois de terminar Dom Casmurro pela terceira vez. Com certeza foi minha obstinação por essa obra prima da psicanálise literária que assinou a minha sentença de morte. “Essa guria já leu Machado de Assis demais para uma encarnação só”, pensou Deus ao enviar a Dona Morte para me buscar.

Confesso que não me surpreendi quando abri os olhos e a vi sentada na poltrona do meu quarto, como quem admira um amante quando este despretenciosamente deixa à mostra o corpo nu.

- Oi.
- Oi.
- Acho que sei quem é você.
- E quem sou eu?
- A Morte.
- Não. Eu sou a Dona Morte, secretária da Morte. Quem me dera ser a Morte! Quisera eu dar fim à vida.
- Tem certeza de que gostaria disso?
- Claro! Você por acaso conhece a Morte para achar que a vida é melhor?
- Não.
- Então não fale com esse tom que me culpa por querer tirar a vida das pessoas.
- Está certo. Como não gosto de falar das coisas sem propriedade, me leve logo. Quero conhecer a tal da Morte.
- Gostei de você, garota! A maioria das pessoas teme a morte. Você, ao contrário, quer conhecê-la para não cometer injustiças aos preferir a vida. Mas sabe, o curioso é que se você conhecer a morte, e mesmo assim preferir a vida, não poderá voltar atrás. O que me diz disso?
- Digo que também é assim com o amor. Depois de conhecê-lo, não há volta. Sobrevivi a ele. Posso sobreviver à Morte.
- Garota, nunca ouvi ninguém falar em sobreviver à Morte.
- É mesmo... Como se possível sair com vida da Morte.
- Eu posso fazer com que você saia com vida da Morte.
- Mesmo? Mas será que eu quero? Você mesma me disse que eu não devia achar a vida melhor que a Morte.
- A vida não é melhor que a Morte, assim como a velhice nunca será melhor que a juventude. É cada coisa à seu tempo...
- E qual é o meu tempo?
- Ele se esgotaria hoje.
- Então a minha impressão...
- Sim, você estava certa.
- Mas porque mudar os planos agora?
- Porque a morte não deve causar curiosidade, mas sim pesar e medo. E para que seja assim, você precisa viver mais alguns anos.

No fundo, sempre tive a impressão de que era muito nova para morrer.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quero ser a Francesca, de Rodin

Na próxima encarnação quero ser uma escultura do Rodin. Quero ser le Baiser. E Deus que não ouse me fazer encarnar na réplica feita de argila, um mero estudo que fica exposto ao lado da original.

Quero ser aquela peça branca e enorme, que consome os olhos pela força e delicadeza que encerra em cada um de seus contornos. Mas como sou humilde peço apenas que o rei dos céus me conceda a graça de ser um pedacinho desta obra de arte: ser Francesca já está de ótimo tamanho.

Ser Francesca para passar a próxima vida ao lado de meu amado Paolo. Envolta em seus músculos, não irei conhecer a tristeza. Mesmo de olhos fechados, estarei protegida pela presença de meu amor. Mesmo feita de mármore, estarei sempre aquecida pelos lábios de meu amor.

Ser Francesca para ser observada, admirada, contemplada. Mas para não olhar para ninguém, apenas para meu amado Paolo.

Ser Francesca para me entregar.

E não fazer nada além de amar.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O que toda mulher (esperta) deve saber

Curso em cinco módulos, para você que sabe o que quere da vida.

Módulo 1 – Nem toda menina quer boneca
Nesse módulo, deixe para trás todos os traumas causados pelas mães e tias que a obrigavam a brincar com bonecas idiotas enquanto os meninos se aventuravam pelas ruas, montados em suas turbinadas bicicletas Caloi.
Método: sessões de hipnose seguidas por confecção de bonecas (de vodu). Segundo especialistas, o reencontro com os símbolos dos traumas (as bonecas) é a melhor maneira de buscar uma catarse psicológica.

Módulo 2 - Peitos, para que os quero?
Entenda porque peitos não são tão importantes assim.
Método: análise de comportamento masculino em seu ambiente natural: o boteco da esquina. Na pesquisa de campo será validada a premissa “todo homem quer mesmo é saber do que está abaixo da linha do equador”.

Módulo 3 – Inteligente sim, chata jamais
Nessa etapa, aprenda a importância de demonstrar a sua inteligência sem parecer chata.
Método: Trabalhos em duplas, onde a inteligente aprende a conversar com alguém menos favorecido intelectualmente sem esboçar irritação ou aquela cara blasé típica dos que possuem cérebros afortunados.

Módulo 4 – Se ele é um babaca, mostre uma banana
Depois de entender a sua infância, o seu corpo e a sua mente, está na hora de entender o sexo oposto. Tarefa impossível? Claro que não. Nesse módulo você saberá como identificar um babaca e também como se livrar dele.
Método: Estudo aprofundado da mente masculina com base nos estudos de Freud, cujas teorias se baseiam na verdade mais absoluta de todas: homem com pinto pequeno é uma merda na cama e ainda é um babaca na sociedade.

Módulo 5 – Arrependimento – palavra que não vai mais existir
Última etapa do curso, tem como objetivo marcar o início de uma vida. É hora de deixar para trás todas as mágoas e problemas do passado e pisar fundo no acelerador rumo ao brilhante futuro que a aguarda. E sem levar no bagageiro lembranças ou fantasmas.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Pague para mim

Amelie tinha o namorado perfeito. Perfeição não existe, ela sabe disso. Mas em se tratando do Mr. Small, ela não tinha como pensar diferente. Tinha, verbo ter conjugado no passado. Porque depois da noite de quinta-feira, ela tem. E como tem.

Num acesso de sinceridade, o ex-namorado ex-perfeito contou que durante os três anos de namoro traiu a amada em diversas ocasiões. “Mas muitas vezes?”, perguntou nossa protagonista, em meio a lágrimas. “Sim”, disse o infeliz.

Incapaz de manter o pênis dentro da calça, ele tratou de traçar várias caipiras sempre que pôde. Mas até aí, compreensível. Ele é homem. E todo homem é idiota quando o assunto é sexo. O pior ainda estava por vir.

Depois de ouvir os relatos das ocasiões em que o digníssimo delicadamente enfeitou sua cabeça com um adereço nada fashion (um belo par de chifres), ela fez uma última pergunta. “Só essas vezes?”, questionou. Com medo da resposta, fechou os olhos um pouco antes de ouvir o que segundos depois a deixaria revoltada. “Não, teve também outra vez em que trepei com uma puta”, respondeu o safado.

“Mas eu não entendo”, choramingou ela. Bom, Amelie, eu também não entendo. Não entendo porque ele não pagou para você o dinheiro que gastou com a puta. Tão mais fácil, mais seguro. (Vamos combinar, por melhor que seja o puteiro, o risco de contrair uma DST com uma puta é milhões de vezes maior do que ao fazer sexo com a menina de família que você conheceu virgem)

Meu futuro namorado, quando você pensar em me trair com uma meretriz, fale comigo. Eu alugo uma peruca, coloco uma bota de cano alto e te encontro na esquina da Treze de Maio com o Teatro Guaíra. Podemos até combinar um esquema de pontos no cartão-fidelidade. Teremos uma noite maravilhosa, e de quebra eu ainda faturo uns trocadinhos. Segundo uns conhecidos do ramo, eu valho uns 100 reais.

sábado, 21 de junho de 2008

A Pagadora de Promessas

Na noite de ontem decidi pagar a única promessa que fiz durante toda a minha vida. (Ariana do segundo decanato, nunca deixo para amanhã uma coisa que posso fazer hoje e não costumo largar no ar compromissos futuros. Na minha vida, é hoje ou não é mais)

Feita depois de muitos copos de cerveja, foi selada há três anos e tem como testemunhas apenas dois colegas de faculdade. Um deles atendia pela alcunha de Galinho, mas hoje se chama Pedro Ernesto Vicente de Castro. O outro sumiu do mapa.

Era coisa simples. Até o final do curso, eu teria que dar um beijo em um terceiro colega, cujo nome prefiro manter em sigilo para evitar possíveis constrangimentos. Na época em que fiz a promessa, não fazia idéia de quando ou como poderia honrar meu compromisso. Tinha namorado, vergonha na cara e um incomum senso de responsabilidade que me impedia de fazer brincadeirinhas inofensivas, dessas que fazem a vida valer a pena.

Durante esses três anos, ninguém tocou no assunto. Eu por respeito ao meu antigo amado; ele por um motivo qualquer que definitivamente não vem ao caso. Mas ontem o assunto veio à tona, na hora mais inesperada.

Eu estava me servindo de vinho quando meus olhos foram obrigados a desvendar o rosto escondido atrás de uma nuvem de cabelos loiros. Era o terceiro, com a mesma cara da noite em que prometi o beijo. Ao olhar aquilo, veio à minha cabeça uma culpa quase que religiosa que me impeliu a honrar de uma vez por todas a promessa feita anos atrás.

Me aproximei, introduzi o assunto e tasquei um beijo na boca do dito cujo. Beijo meio chinfrim, admito. Não durou mais do que cinco segundos. Em todo caso, promessa paga.

Fui para casa com uma sensação de dever cumprido, com a certeza de que terminarei a minha faculdade sem nenhum arrependimento do tipo “arrependimento do que não fiz”. (Mesmo porque, fiz de tudo nesses quatro anos. Desde ficar acordada até às 5h escrevendo um ensaio sobre a Escola de Frankfurt até viajar sozinha com dez garotos malucos e maravilhosos)

Mas não adianta pagar uma promessa para alguém que não pode receber a oferenda acordada. O pagamento não tem valor nenhum, concorda? Não, você não concorda. Discorde agora mesmo, nem que seja apenas para me ajudar a provar que estou certa em não querer repetir o feito na próxima festa apenas porque o terceiro afirma não lembrar do acontecido.

Não que tenha sido ruim, longe disso. Até acredito que possa ser muito bacana dar um beijo de verdade nele. Mas convenhamos, não posso prorrogar algo desse tipo. Promessa é coisa séria! No fundo, importante não é pagar a promessa, mas ter certeza de que a pessoa recebeu o combinado. Por isso, nunca deixe de perguntar: promete que recebeu o pagamento da minha promessa?

domingo, 25 de maio de 2008

Quando a calça jeans não entra mais

Como de costume, ela estava atrasada. Faltavam apenas cinco minutos para as sete e ela ainda estava na cama, se revirando embaixo dos lençóis. Tomou coragem (hoje em dia você pode comprar em qualquer farmácia, em doses cavalares ou homeopáticas) e levantou num só movimento.

Meio zonza, andou até o banheiro e tirou a roupa. Entrou debaixo do chuveiro sem conferir a temperatura da água e surpreendeu-se com uma ducha congelante. Pobre dela, havia esquecido que já era inverno em Curitiba.

Ao sentir em sua pele as pedras de gelo disfarçadas de gotas d´água, saltou para longe do chuveiro e encostou-se no box. De trinta em trinta segundos molhava os dedos do pé para ver se o chuveiro já estava quente o suficiente. Depois de algumas tentativas, entrou debaixo da ducha.

Como estava sem tempo, decidiu tomar um banho de gato. Lavou primeiro o rosto, depois o colo e em seguida as “partes”. “O cabelo lavo de noite”, pensou. Fechou o registro, saiu do box e caminhou até o quarto, deixando pelo corredor pequenas poças na forma de pegadas.

Conferiu mais uma vez o relógio. Agora já eram sete horas e dois minutos. Abriu a porta do armário e tirou de uma das prateleiras a primeira calça jeans que viu. Começou a vestí-la pelas pernas, como uma calça deve começar a ser vestida. Depois do joelho, empacou. A calça não passava dos quadris. Tentou içá-la com pulinhos descompassados, sem sucesso.

“Porque esta merda não entra?”, praguejou. Irritada, começou a pensar no que havia comido nos últimos dias. No menu imaginário, nada que justificasse aquela situação. (Ela tinha até recusado aquele chocolate suíço que tanto gostava)

Então porque não entrava mais numa peça de roupa que depois de anos de uso era quase uma segunda pele? Sem muito tempo para pensar, tirou a calça do corpo e a deixou no chão. “Ah, chega uma hora que a gente tem que mudar mesmo”, resmungou.

Indiferente, abriu a outra porta do armário e pegou uma saia.

Sem dificuldade, colocou a saia no corpo e foi trabalhar.

E assim é a vida.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Há mentiras que vem para o bem

Podem me chamar de tratante. Afinal, eu prometi que iria divulgar aqui todas as mentiras que os homens contam para enganar as mulheres e não o fiz. Confesso que durante o último mês deixei de lado o amargor que tomava conta do meu coração e tentei enxergar no meio de tantos dramas femininos pelo menos uma ínfima partícula de caráter masculino.

Estava quase conseguindo. Quase.

Na tarde de terça-feira recebi em meu Orkut um scrap que acabou com todas as minhas expectativas. Depois de ler a minha postagem anterior, um leitor (homem) do blog fez o seguinte comentário (não exatamente com estas palavras): “Discordo do texto porque nunca menti para nenhuma mulher”.

Ai meu Deus! Pra cima de mim? O distinto esqueceu que é meu amigo há três anos e que presenciei milhões de conversas nas quais ele inclusive me ensinava a identificar as mentiras que os homens contam. Lamentável!

O infeliz comentário, que à primeira vista soou como uma afronta, teve seu lado positivo. Por meio dessas medonhas palavras identifiquei os mecanismos que os homens utilizam para mentir. E é aí que está a verdadeira revolução!

Porque, pense comigo, de que adianta saber sobre quais assuntos os homens mentem e o que querem encobrir com as falácias se não conseguimos identificar quando estão mentindo?

Mas voltemos à constatação. Ao mentir, todos os homens apresentam um comportamento “brincalhão” e “engraçadinho”. O comentário do nosso leitor, por exemplo, veio seguido de uma risadinha internética (aquele famoso “hehehe”). Ou seja, quando eles mentem não conseguem fazê-lo de forma extremamente descarada. (Yes! Ainda há uma luz no fim do túnel!)

Com base nisso tudo podemos pegar o mentiroso no flagra e nos safar dos sofrimentos posteriores. Temos que nos unir e, pela primeira e única vez na vida, agradecer a mentira de um homem.

Em nome de todas as leitoras, obrigada Mc. Amendoim!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Desculpas esfarrapadas que os homens dão e deixam as mulheres em farrapos

Os homens de hoje estão se especializando na arte de inventar desculpas que justifiquem a falta de comprometimento nos relacionamentos amorosos. Depois de ouvir milhares de histórias narradas em meio a lágrimas e desilusões, decidi que não poderia mais guardar meu vasto conhecimento a respeito do assunto. Afinal, saber as armas do inimigo e não espalhar o segredo para as aliadas é traição das bravas, praticamente crime de Estado.

Meninas que lêem esse blog, preparem-se: depois de ler as observações abaixo vocês não serão mais as mesmas!

Desculpa número 1
A preferida dos nossos amados, consiste basicamente em afirmar “não estamos na mesma fase”. Quando eles dizem isso, interprete da seguinte maneira: “você é gostosa, eu quero te comer, mas não vou namorar você porque quero comer outras também”. E por favor, depois de interpretar, mande-o catar coquinho. A idéia de ele comer o máximo de meninas que conseguir é excelente, só para ele. Não caia no erro de achar que isso vai trazer algum benefício para a sua vida. Tudo o que você vai conseguir caso de envolva com esse tipo de homem é um coração quebrado. Compreendeu? Vamos prosseguir.

Desculpa número 2
Usada por aqueles que não têm coragem suficiente para assumir suas inseguranças, geralmente faz com que mulheres bem sucedidas e maravilhosas tenham vergonha das suas conquistas. Materializa-se na frase “somos muito diferentes, não consigo concordar com as suas posturas”. Quando ouvir isso, apenas responda: “concordo com você: eu tenho atitude e você é um banana”. Simples assim.

(Continua na próxima semana)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Semente de mim mesma

Às vezes tenho a sensação de que você me conhece melhor do que ninguém. As palavras certeiras que disse justo no momento em que havia tantas combinações de vocabulário possíveis não podem ter sido apenas uma grande coincidência semântica.

Outras vezes, infelizmente, somos completos desconhecidos.

Você desconhece o quanto eu detesto quando some e fica exatos cinco dias, dezessete horas e 38 minutos sem dar sinal de vida. Você desconhece o quanto detesto ficar imaginando onde e com quem você está sem ter a coragem de ligar e perguntar.

Mas acima de tudo você desconhece o quanto eu detesto quando me dá motivos para ser eu mesma: uma menina mimada e intempestiva que fará a primeira coisa que vier à cabeça simplesmente porque não suporta a reflexão, irmã siamesa da monotonia.

No sábado passado eu não queria ter feito as coisas que fiz. Apenas sete dias antes eu era o ser humano mais feliz que poderia ser, mas a sua ausência plantou em mim a semente de mim mesma.

Regada a muito álcool, ela brotou. Os frutos? Ainda não colhi nenhum. Quem sabe você, que estuda essas coisas do meio ambiente, possa me explicar as conseqüências das minhas ações.

Sinceramente, não suporto a entressafra.

Espero que um dia você invente um método mágico para as árvores ficarem sempre carregadas de belos frutos. E prometo que até lá meu broto já irá ter se transformado em uma árvore madura.

domingo, 23 de março de 2008

Chocolate suíço

Em época de Páscoa é impossível não pensar em chocolate. Eu, que nunca fui fã desse delicioso derivado do cacau, me peguei desejando uma barrinha hoje à tarde. Mas não era qualquer barrinha: era uma barra de chocolate suíço.

Conheci a marca durante uma viagem. Confesso que no começo achei o gosto meio sem graça (estava acostumada com os chocolates brasileiros, exageradamente doces). Mas depois de três dias comendo a tal barrinha, identifiquei nela qualidades que à primeira vista estavam ocultas.

O gosto meio sem graça transformou-se em uma deliciosa consistência, algo que nunca havia experimentado na vida. A coloração, mais clara que a normal, também se mostrou linda com o passar do tempo.

Mas tudo isso, que era maravilhoso enquanto eu podia comprar as barrinhas na loja da esquina, agora é um problema. Não consigo mais comer os chocolates daqui sem sentir saudades do meu chocolate suíço. E o pior: não há como comprá-lo aqui.

Isso não é justo! Eu que nunca gostei de chocolate fui ficar viciada logo numa marca que só é vendida do outro lado do oceano. O jeito é trazer o representante comercial da marca para morar aqui no Brasil. Mas acho que ele não iria se adaptar. Nem português ele fala...

What???
It´s not like that!!!
I hope you understand this text
Miss you

domingo, 9 de março de 2008

Um diálogo sobre o fim do mundo

Maria: – Meu amor, o que você faria se só lhe restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria? Ia manter a sua agenda, de almoço, hora, apatia? Os esperar os seus amigos na sua sala vazia? Corria para um shopping ou para a academia? Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha? Abria a porta do hospício? Trancava a da delegacia? Dinamitava o meu carro? Parava no tráfego e ria?

O amor da Maria: – Eu riria. Riria do gay que não saio do armário, da esposa traída que não cortou o pinto do seu digníssimo marido, da gorda que ficou anos fazendo regime e morrerá gorda. Riria da menina de família que nunca desobedeceu os pais, da mulher que ficou para tia, do colega da trabalho que perdeu as melhores conversas porque era um workaholic. Riria do tempo que se perdia!

quarta-feira, 5 de março de 2008

Paz, fique mais

O que nos leva a transformar nossos pensamentos em palavras, sejam elas ditas ou escritas? Depois de ser questionada por uma leitora costumaz (yes, eu tenho uma!) sobre porque parei de postar novos textos, me peguei pensando no motivo que me levou a vontade de escrever. Hoje à noite consegui desvendar esse mistério.

Quando nossa alma está em paz não há assunto a ser tratado, simplesmente pairamos sobre tudo e todos como se nada pudesse nos atingir ou nos irritar. E, no meu caso, me sentir atingida ou irritada é sinônimo de inspiração.

A minha paz veio de muito longe e por três deliciosas semanas permaneceu no meu coração como o melhor souvenir que eu poderia ter trazido de viagem. Mas ontem pela manhã, sem dizer adeus nem deixar um mísero bilhetinho, ela foi embora.

Será que foi embora para sempre? Espero que não, mesmo porque a razão pela qual me abandonou não é tão grave assim. Afinal, quem nunca foi processado por um funcionário público?

Se por um lado tenho inspiração novamente, por outro deixo de ter noites tranqüilas e pensamentos serenos. Se por um lado tenho milhares de textos recheados com os mais variados assuntos, por outro deixo de andar por aí com a despreocupação de uma criança de dois anos cuja única ocupação é brincar com a babá.

Sinceramente, estava me estanhando. Não é normal para uma pessoa como eu ficar três semanas sem me irritar com alguma coisa! Sinceramente, estava me amando. Que extraordinário uma pessoa como eu ficar três semanas sem me irritar com nada!

Façamos um acordo. Inspiração: a partir de hoje você procura outras fontes para beber (deixe a irritação pra lá e vá conversar com o amor, a amizade, a beleza). E você, paz, aprenda a conviver melhor com a inspiração. Não quero mais saber de você saindo de fininho quando ela aparecer, okey?

domingo, 6 de janeiro de 2008

Pense na minha avó

As mulheres lutaram muito pela igualdade entre os sexos. Minha avó, que Deus a tenha, queimou seu sutiã em praça pública para que pudesse não usar o meu. E para que eu pudesse fazer várias outras coisas. Coisas como fazer o que quiser, por exemplo.

Tanta luta, tanta batalha. Anos a fio travando uma verdadeira guerra com os homens. Mas pra quê? Depois de um passeio no parque, acompanhada de um amigo, tenho a resposta: para que as mulheres possam provocar as situações e se fazerem de vítimas.

É isso mesmo, feminista de plantão. Você não leu errado. Essa é a minha opinião e tenho provas. Bastante coerentes, por sinal. Quer ouvir. Vamos lá.

Agora podemos dizer “quero que você me beije” sem nos sentirmos culpadas. Mas quando ganhamos o beijo, e apenas o beijo, nós saímos dizendo: “nossa, ele me usou. Não podia ter feito isso comigo”.

Vê a confusão? Mas vamos a outro exemplo para que a situação fique ainda mais clara. Agora podemos estudar e trabalhar tanto quanto os homens. Mas quando temos que corresponder às mesmas exigências que nossos colegas do sexo masculino criamos mil histórias para validar nossas crises e problemas supostamente “irresolvíveis”. Coisas como “eu estou de TPM”.

Não estou desconsiderando as diferenças físicas que existem entre as pessoas do sexo feminino e masculino, mas sim deixando clara a minha revolta com algumas pessoas do sexo feminino que insistem em jogar ladeiro abaixo o trabalho e as conquistas de muitas mulheres.

Beijou e o cara soltou fora, assuma que foi tão responsável pelo beijo quanto o cara ao invés de chamá-lo de aproveitador. Você procurou e achou. Só não achou o que queria. Paciência!

Está com cólica e tem que ir trabalhar? Engula uma caixa de chá de rosas, coloque uma calça larga, esquente uma bolsa d´água e vá em frente. Por favor, não fique em casa se lamentando.

Mulheres, está na hora de acordar. Os homens não podem receber a culpa quando a situação não terminou da maneira como sonhamos. Nós somos, no mínimo, 50% responsáveis por tudo o que fazemos. E isso não é ótimo?

Então, cada vez que pensar em abrir a boca para difamar um homem porque as coisas não saíram como você queria, pense: “será que eu não sou co-responsável por isso?”. Tenho certeza que a resposta será sim.

Mas se mesmo assim quiser falar besteiras por aí, vá em frente. Mas saiba que estará fazendo a minha querida vovó se remexer em seu caixão. Por isso eu peço: se não pensa em você, pense na minha avó. Ela não merece passar a eternidade de bruços.