quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Três anos sem escrever

Pelas minhas contas, são três anos sem escrever. Nesse meio tempo, fiz muitas coisas que talvez justifiquem a minha ausência.


Me formei, trabalhei em três lugares diferentes (três vezes mais do que meu pai, que trabalhou na mesma empresa por 35 anos), experimentei uns sete cortes de cabelo e umas oito colorações para ver no que dava, viajei, voltei, viajei de novo, voltei de novo. Morei num hotel, senti saudades de casa. Morei em casa, senti saudades do hotel. Fiquei mais independente e, ao mesmo, mais dependente do que nunca. Quantas generalizações, sem sentido continuar escrevendo em códigos apenas para satisfazer o meu ego!


O que importa mesmo é que, depois de três anos, li o meu primeiro post e vi que o texto ainda cai como uma luva. O que será que isso significa? Que a minha essência, querendo ou não, aceitando ou não, é ser brotinho.


Este ano, ser brotinho vai significar voltar a escrever.


Sobre a vida, sobre as ideias, sobre as coisas.


E, agora do alto dos meus 24 anos, com muito menos certeza de nada.


Engraçado chegar a esta conclusão, não?


Quando eu era mais nova, achava que os anos me trariam certezas.


Ledo engano.


Quanto mais os dias passam, mais as dúvidas surgem.


Estou no caminho certo?


Estou feliz?


(E não vou continuar listando-as aqui apenas para parecer espertinha)


Já dei o primeiro passo, que era redescobrir a senha do blog.


Estou ansiosa pelo primeiro assunto de verdade!


*Mesmo sem saber, senti saudades deste meu lado jornalista

domingo, 9 de agosto de 2009

Mania de mudar de mania

Cristina, tão logo nasceu, decidiu que teria apenas uma única mania ao longo de toda a sua vida. Diferente daqueles que só dormem com a porta do quarto aberta ou daqueles que penteiam o cabelo sempre para o lado esquerdo somente com a escova verde de cerdas falhas, ela escolheu que teria a mania de mudar de mania.

Quando bebê, primeiro de apegou à Moranguinho para depois grudar no Ursinho Carinhoso. Com uns oito anos, substituiu o pingo do i por um x, só para ser diferente. Quando chegou aos dez, abandonou a mania gráfica para mergulhar de cabeça em outro campo: os hábitos higiênicos. Por cerca de 700 dias dedicou-se diariamente a escovar os dentes apenas com pasta de morango e a lavar o cabelo só com shampoo de camomila.

Alguns anos se passaram e outras manias vieram. Aos 15, repetia a primeira música de qualquer CD cinco vezes antes de tocar adiante. Aos 16, dobrava as sapatilhas sete vezes antes de calcá-las. Dos 18 aos 21, meio anarquista, decidiu que sua mania seria criticar as manias alheias. ("Quem não tem teto de vidro, que atire a primeira pedra", pensava.)

Aos 22, virou "escritora" e pegou a mania de sempre carregar um bloquinho na bolsa.

Todo o retrospecto a fez pensar: "não está na hora de mudar esta mania de mudar de mania?".

*Qualquer semelhança entre a personagem e a minha pessoa é mera semelhança. Todos sabem que eu jamais dobraria minha sapatilha...

domingo, 5 de julho de 2009

Miniconto

Te conto aqui o meu miniconto.

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Ela olhou para a cachoeira e perguntou:
- O que eu faço?
A cachoeira, vertical, respondeu:
- Nada.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Cabelos vermelhos

Eu achei que pintando meu cabelo fosse me sentir mais feliz. Não fui ingênua a ponto de achar que uma coloração capilar fosse me deixar em estado de êxtase, mas sinceramente esperava sentir no coração algum tipo de felicidade. No mínimo um contentamento, como aquele que sinto ao terminar um livro de 800 páginas cujo autor o tempo todo insiste em escrever na ordem indireta.

Fiquei ruiva, mas não fiquei mais feliz.

Segundo minha mãe, isso mostra que sou uma pessoa que pouco liga para as aparências e que me preencho com questões mais profundas que as mundanas alterações estéticas femininas. (E que usa muitos quês numa mesma frase, diga-se de passagem) Argumento pretensioso, mas que me agradou muito. (Ops, mais um que)

Segundo minha voz interior, isso significa que não gostei tanto assim do resultado. Vozinha chata essa, que não sai da cabeça e não perdoa nenhuma relutância. Eu gostei sim do resultado. In fact, amei! Agora sou uma menina vermelinha, que no sol tem o cabelo da cor de cerejas escuras.

Segundo este texto, isso significa que ainda não decidi como me sinto a respeito dos meus novos cachos vermelhos.

Mas como toda boa indecisa, não usei tinta.

Pedi para a moça do salão usar tonalizante.

Eu sempre dou um jeitinho de voltar atrás!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Muito nova para morrer

Sempre tive a impressão de que morreria cedo. Ao guardar pequenas coisas em minha gaveta, tinha a sensação de alimentar uma caixinha de Pandora a ser aberta por minha mãe, em uma chorosa tarde de domingo quando eu já não estivesse mais aqui.

Na gaveta, nada muito comprometedor. Uma conta de celular que esqueci de pagar, um maço de cigarros de menta que gostava de fumar aos domingos à tarde, um ticket do restaurante onde fui pela última vez com um namoradinho que estava começando a me encantar de verdade.

Segredos, segredinhos diria agora que a impressão virou realidade.

Eu morri aos 21 anos, logo depois de terminar Dom Casmurro pela terceira vez. Com certeza foi minha obstinação por essa obra prima da psicanálise literária que assinou a minha sentença de morte. “Essa guria já leu Machado de Assis demais para uma encarnação só”, pensou Deus ao enviar a Dona Morte para me buscar.

Confesso que não me surpreendi quando abri os olhos e a vi sentada na poltrona do meu quarto, como quem admira um amante quando este despretenciosamente deixa à mostra o corpo nu.

- Oi.
- Oi.
- Acho que sei quem é você.
- E quem sou eu?
- A Morte.
- Não. Eu sou a Dona Morte, secretária da Morte. Quem me dera ser a Morte! Quisera eu dar fim à vida.
- Tem certeza de que gostaria disso?
- Claro! Você por acaso conhece a Morte para achar que a vida é melhor?
- Não.
- Então não fale com esse tom que me culpa por querer tirar a vida das pessoas.
- Está certo. Como não gosto de falar das coisas sem propriedade, me leve logo. Quero conhecer a tal da Morte.
- Gostei de você, garota! A maioria das pessoas teme a morte. Você, ao contrário, quer conhecê-la para não cometer injustiças aos preferir a vida. Mas sabe, o curioso é que se você conhecer a morte, e mesmo assim preferir a vida, não poderá voltar atrás. O que me diz disso?
- Digo que também é assim com o amor. Depois de conhecê-lo, não há volta. Sobrevivi a ele. Posso sobreviver à Morte.
- Garota, nunca ouvi ninguém falar em sobreviver à Morte.
- É mesmo... Como se possível sair com vida da Morte.
- Eu posso fazer com que você saia com vida da Morte.
- Mesmo? Mas será que eu quero? Você mesma me disse que eu não devia achar a vida melhor que a Morte.
- A vida não é melhor que a Morte, assim como a velhice nunca será melhor que a juventude. É cada coisa à seu tempo...
- E qual é o meu tempo?
- Ele se esgotaria hoje.
- Então a minha impressão...
- Sim, você estava certa.
- Mas porque mudar os planos agora?
- Porque a morte não deve causar curiosidade, mas sim pesar e medo. E para que seja assim, você precisa viver mais alguns anos.

No fundo, sempre tive a impressão de que era muito nova para morrer.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quero ser a Francesca, de Rodin

Na próxima encarnação quero ser uma escultura do Rodin. Quero ser le Baiser. E Deus que não ouse me fazer encarnar na réplica feita de argila, um mero estudo que fica exposto ao lado da original.

Quero ser aquela peça branca e enorme, que consome os olhos pela força e delicadeza que encerra em cada um de seus contornos. Mas como sou humilde peço apenas que o rei dos céus me conceda a graça de ser um pedacinho desta obra de arte: ser Francesca já está de ótimo tamanho.

Ser Francesca para passar a próxima vida ao lado de meu amado Paolo. Envolta em seus músculos, não irei conhecer a tristeza. Mesmo de olhos fechados, estarei protegida pela presença de meu amor. Mesmo feita de mármore, estarei sempre aquecida pelos lábios de meu amor.

Ser Francesca para ser observada, admirada, contemplada. Mas para não olhar para ninguém, apenas para meu amado Paolo.

Ser Francesca para me entregar.

E não fazer nada além de amar.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O que toda mulher (esperta) deve saber

Curso em cinco módulos, para você que sabe o que quere da vida.

Módulo 1 – Nem toda menina quer boneca
Nesse módulo, deixe para trás todos os traumas causados pelas mães e tias que a obrigavam a brincar com bonecas idiotas enquanto os meninos se aventuravam pelas ruas, montados em suas turbinadas bicicletas Caloi.
Método: sessões de hipnose seguidas por confecção de bonecas (de vodu). Segundo especialistas, o reencontro com os símbolos dos traumas (as bonecas) é a melhor maneira de buscar uma catarse psicológica.

Módulo 2 - Peitos, para que os quero?
Entenda porque peitos não são tão importantes assim.
Método: análise de comportamento masculino em seu ambiente natural: o boteco da esquina. Na pesquisa de campo será validada a premissa “todo homem quer mesmo é saber do que está abaixo da linha do equador”.

Módulo 3 – Inteligente sim, chata jamais
Nessa etapa, aprenda a importância de demonstrar a sua inteligência sem parecer chata.
Método: Trabalhos em duplas, onde a inteligente aprende a conversar com alguém menos favorecido intelectualmente sem esboçar irritação ou aquela cara blasé típica dos que possuem cérebros afortunados.

Módulo 4 – Se ele é um babaca, mostre uma banana
Depois de entender a sua infância, o seu corpo e a sua mente, está na hora de entender o sexo oposto. Tarefa impossível? Claro que não. Nesse módulo você saberá como identificar um babaca e também como se livrar dele.
Método: Estudo aprofundado da mente masculina com base nos estudos de Freud, cujas teorias se baseiam na verdade mais absoluta de todas: homem com pinto pequeno é uma merda na cama e ainda é um babaca na sociedade.

Módulo 5 – Arrependimento – palavra que não vai mais existir
Última etapa do curso, tem como objetivo marcar o início de uma vida. É hora de deixar para trás todas as mágoas e problemas do passado e pisar fundo no acelerador rumo ao brilhante futuro que a aguarda. E sem levar no bagageiro lembranças ou fantasmas.