sábado, 21 de junho de 2008

A Pagadora de Promessas

Na noite de ontem decidi pagar a única promessa que fiz durante toda a minha vida. (Ariana do segundo decanato, nunca deixo para amanhã uma coisa que posso fazer hoje e não costumo largar no ar compromissos futuros. Na minha vida, é hoje ou não é mais)

Feita depois de muitos copos de cerveja, foi selada há três anos e tem como testemunhas apenas dois colegas de faculdade. Um deles atendia pela alcunha de Galinho, mas hoje se chama Pedro Ernesto Vicente de Castro. O outro sumiu do mapa.

Era coisa simples. Até o final do curso, eu teria que dar um beijo em um terceiro colega, cujo nome prefiro manter em sigilo para evitar possíveis constrangimentos. Na época em que fiz a promessa, não fazia idéia de quando ou como poderia honrar meu compromisso. Tinha namorado, vergonha na cara e um incomum senso de responsabilidade que me impedia de fazer brincadeirinhas inofensivas, dessas que fazem a vida valer a pena.

Durante esses três anos, ninguém tocou no assunto. Eu por respeito ao meu antigo amado; ele por um motivo qualquer que definitivamente não vem ao caso. Mas ontem o assunto veio à tona, na hora mais inesperada.

Eu estava me servindo de vinho quando meus olhos foram obrigados a desvendar o rosto escondido atrás de uma nuvem de cabelos loiros. Era o terceiro, com a mesma cara da noite em que prometi o beijo. Ao olhar aquilo, veio à minha cabeça uma culpa quase que religiosa que me impeliu a honrar de uma vez por todas a promessa feita anos atrás.

Me aproximei, introduzi o assunto e tasquei um beijo na boca do dito cujo. Beijo meio chinfrim, admito. Não durou mais do que cinco segundos. Em todo caso, promessa paga.

Fui para casa com uma sensação de dever cumprido, com a certeza de que terminarei a minha faculdade sem nenhum arrependimento do tipo “arrependimento do que não fiz”. (Mesmo porque, fiz de tudo nesses quatro anos. Desde ficar acordada até às 5h escrevendo um ensaio sobre a Escola de Frankfurt até viajar sozinha com dez garotos malucos e maravilhosos)

Mas não adianta pagar uma promessa para alguém que não pode receber a oferenda acordada. O pagamento não tem valor nenhum, concorda? Não, você não concorda. Discorde agora mesmo, nem que seja apenas para me ajudar a provar que estou certa em não querer repetir o feito na próxima festa apenas porque o terceiro afirma não lembrar do acontecido.

Não que tenha sido ruim, longe disso. Até acredito que possa ser muito bacana dar um beijo de verdade nele. Mas convenhamos, não posso prorrogar algo desse tipo. Promessa é coisa séria! No fundo, importante não é pagar a promessa, mas ter certeza de que a pessoa recebeu o combinado. Por isso, nunca deixe de perguntar: promete que recebeu o pagamento da minha promessa?