segunda-feira, 31 de março de 2008

Semente de mim mesma

Às vezes tenho a sensação de que você me conhece melhor do que ninguém. As palavras certeiras que disse justo no momento em que havia tantas combinações de vocabulário possíveis não podem ter sido apenas uma grande coincidência semântica.

Outras vezes, infelizmente, somos completos desconhecidos.

Você desconhece o quanto eu detesto quando some e fica exatos cinco dias, dezessete horas e 38 minutos sem dar sinal de vida. Você desconhece o quanto detesto ficar imaginando onde e com quem você está sem ter a coragem de ligar e perguntar.

Mas acima de tudo você desconhece o quanto eu detesto quando me dá motivos para ser eu mesma: uma menina mimada e intempestiva que fará a primeira coisa que vier à cabeça simplesmente porque não suporta a reflexão, irmã siamesa da monotonia.

No sábado passado eu não queria ter feito as coisas que fiz. Apenas sete dias antes eu era o ser humano mais feliz que poderia ser, mas a sua ausência plantou em mim a semente de mim mesma.

Regada a muito álcool, ela brotou. Os frutos? Ainda não colhi nenhum. Quem sabe você, que estuda essas coisas do meio ambiente, possa me explicar as conseqüências das minhas ações.

Sinceramente, não suporto a entressafra.

Espero que um dia você invente um método mágico para as árvores ficarem sempre carregadas de belos frutos. E prometo que até lá meu broto já irá ter se transformado em uma árvore madura.

domingo, 23 de março de 2008

Chocolate suíço

Em época de Páscoa é impossível não pensar em chocolate. Eu, que nunca fui fã desse delicioso derivado do cacau, me peguei desejando uma barrinha hoje à tarde. Mas não era qualquer barrinha: era uma barra de chocolate suíço.

Conheci a marca durante uma viagem. Confesso que no começo achei o gosto meio sem graça (estava acostumada com os chocolates brasileiros, exageradamente doces). Mas depois de três dias comendo a tal barrinha, identifiquei nela qualidades que à primeira vista estavam ocultas.

O gosto meio sem graça transformou-se em uma deliciosa consistência, algo que nunca havia experimentado na vida. A coloração, mais clara que a normal, também se mostrou linda com o passar do tempo.

Mas tudo isso, que era maravilhoso enquanto eu podia comprar as barrinhas na loja da esquina, agora é um problema. Não consigo mais comer os chocolates daqui sem sentir saudades do meu chocolate suíço. E o pior: não há como comprá-lo aqui.

Isso não é justo! Eu que nunca gostei de chocolate fui ficar viciada logo numa marca que só é vendida do outro lado do oceano. O jeito é trazer o representante comercial da marca para morar aqui no Brasil. Mas acho que ele não iria se adaptar. Nem português ele fala...

What???
It´s not like that!!!
I hope you understand this text
Miss you

domingo, 9 de março de 2008

Um diálogo sobre o fim do mundo

Maria: – Meu amor, o que você faria se só lhe restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria? Ia manter a sua agenda, de almoço, hora, apatia? Os esperar os seus amigos na sua sala vazia? Corria para um shopping ou para a academia? Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha? Abria a porta do hospício? Trancava a da delegacia? Dinamitava o meu carro? Parava no tráfego e ria?

O amor da Maria: – Eu riria. Riria do gay que não saio do armário, da esposa traída que não cortou o pinto do seu digníssimo marido, da gorda que ficou anos fazendo regime e morrerá gorda. Riria da menina de família que nunca desobedeceu os pais, da mulher que ficou para tia, do colega da trabalho que perdeu as melhores conversas porque era um workaholic. Riria do tempo que se perdia!

quarta-feira, 5 de março de 2008

Paz, fique mais

O que nos leva a transformar nossos pensamentos em palavras, sejam elas ditas ou escritas? Depois de ser questionada por uma leitora costumaz (yes, eu tenho uma!) sobre porque parei de postar novos textos, me peguei pensando no motivo que me levou a vontade de escrever. Hoje à noite consegui desvendar esse mistério.

Quando nossa alma está em paz não há assunto a ser tratado, simplesmente pairamos sobre tudo e todos como se nada pudesse nos atingir ou nos irritar. E, no meu caso, me sentir atingida ou irritada é sinônimo de inspiração.

A minha paz veio de muito longe e por três deliciosas semanas permaneceu no meu coração como o melhor souvenir que eu poderia ter trazido de viagem. Mas ontem pela manhã, sem dizer adeus nem deixar um mísero bilhetinho, ela foi embora.

Será que foi embora para sempre? Espero que não, mesmo porque a razão pela qual me abandonou não é tão grave assim. Afinal, quem nunca foi processado por um funcionário público?

Se por um lado tenho inspiração novamente, por outro deixo de ter noites tranqüilas e pensamentos serenos. Se por um lado tenho milhares de textos recheados com os mais variados assuntos, por outro deixo de andar por aí com a despreocupação de uma criança de dois anos cuja única ocupação é brincar com a babá.

Sinceramente, estava me estanhando. Não é normal para uma pessoa como eu ficar três semanas sem me irritar com alguma coisa! Sinceramente, estava me amando. Que extraordinário uma pessoa como eu ficar três semanas sem me irritar com nada!

Façamos um acordo. Inspiração: a partir de hoje você procura outras fontes para beber (deixe a irritação pra lá e vá conversar com o amor, a amizade, a beleza). E você, paz, aprenda a conviver melhor com a inspiração. Não quero mais saber de você saindo de fininho quando ela aparecer, okey?